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O Desemprego e o Amapá

A continuidade do atraso que se instalou no Amapá está direta e proporcionalmente ligada à elevada taxa de desemprego que assola nosso estado. A gente não pode ser injusto e debitar o valor total desta conta nos governantes atuais, uma vez que este índice de desemprego no Amapá é histórico visto que essa relação remonta o processo de formação do território e do povo do Amapá. É de amplo e público conhecimento como se deu a formação contemporânea do Amapá, onde primeiro fizera parte do Estado do Pará quando em 1943 o Amapá é desmembrado do estado do Pará para então criação do Território Federal do Amapá que perdurou até a promulgação da Constituição Federal da República de 1988 que eleva o Amapá a condição de estado. Fazer esse recorte é necessário para que possamos entender em que pé nos encontramos atualmente e como todos sabem, não é nada positivo as cenas que vemos diariamente no que tange o desemprego no Amapá.

Estas foram as condições em que o Amapá se encontrava, plenamente dependente dos recursos da União para seu desenvolvimento e isto garantiu a manutenção de diversas dinâmicas socioeconômicas que ainda vivenciamos nos dias de hoje. Quando criado o Território houve a necessidade de se montar a nossa estrutura administrativa para que assim a máquina pública pudesse executar políticas públicas, o que vimos foi a migração de pessoas oriundas do centro-sul brasileiro para ocupar cargos na administração pública, no legislativo e no judiciário do Amapá. Enquanto o povo descendente de indígenas e negros, aqueles que lutaram na Revolta da Cabanagem e no Contestado Franco-Brasileiro, foram esquecidos e marginalizados. Para que tenhamos uma noção de como isso infere diretamente nas nossas dinâmicas socioeconômicas proponho um exercício mental a todo qualquer amapaense que se propuser a ler esta coluna: sua avó aprendeu a ler? Se aprendeu, até que série estudou? Quantos de vocês tem avós que foram para universidades públicas eles sendo amapaenses? Em um longo prazo as respostas dessas perguntas produziram diversas famílias que precisaram de duas ou mais gerações para que seus jovens pudessem ingressar em uma universidade pública, agora imaginem para que estejam preparados para assumir cargos como juízes, promotores, defensores, procuradores, policiais, fiscal da fazenda pública etc. Esse breve contexto que expresso é apenas um esboço dessa problemática que é sistêmica e exige esforços em todos os níveis da administração pública, a fim de resgatar a dignidade de uma parcela significativa da nossa população.

Recentemente dados divulgados pela PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostragens de Domicílios Contínua) do IBGE, revelou o que já estamos sentindo cotidianamente nas ruas da capital do Amapá, Macapá ocupou o topo do ranking do desemprego entre as capitais brasileiras: 18,7%. E nosso estado lidera o topo do Ranking do Desemprego no país com 20,2%, isso quer dizer que entre 10 pessoas que estão em disponibilidade laboral 4 estão desempregadas. Esses dados, além de indicar um retrato calamitoso da situação do emprego no Amapá, também são a fonte técnica para que políticas possam ser pensadas e executadas buscando mitigar os efeitos do desemprego. E são os agentes estatais, que são tomadores de decisão, que estão aptos a promover a implementação de políticas de diversificação do emprego, já que no Amapá quando falamos em emprego automaticamente em nossa cabeça vem ‘concurso’ ou ‘cargo político’. É evidente que estas não as únicas formas de uma pessoa aplicar suas habilidades e criatividades nos meios laborais, porém essa dinâmica decorre justamente do processo de formação que citei logo que comecei a fazer essas considerações.

É preciso que o novo governador do Amapá, que será eleito em outubro próximo, proponha e execute uma nova política de empregos no Amapá. Que envolva os atores do Legislativo, Judiciário e o Setor Privado, os relacionando de maneira simbiótica buscando soluções para os entraves que encontramos para instalação de empresas no Amapá, e isso que argumento neste momento envolve em mexer nas ignições burocráticas do Estado buscando facilitar, diversificar e cooperar para que novos postos de trabalho sejam implementados. Certamente nosso lugar está cheio de potenciais não explorados, em Oiapoque por exemplo onde fica nossa faixa de fronteira com a França, há uma série de postos de empregos que não são criados porque nossos tomadores de decisão não optam por essa diversificação. Lá por exemplo há uma série de hotéis, pousadas, balneários que atendem, em duas ou mais línguas, turistas vindos da Guiana Francesa e a existência desta cadeia produtiva ativa outros setores que dependem dessa movimentação como taxistas, mototaxistas e catraieiros; Santana e Cutias do Araguari possuem as duas melhores saídas portuárias do Amapá – o de Cutias do Araguari é bem verdade parece ser um sonho distante – mas podendo estar dentro do planejamento do Amapá que queremos, uma vez que a instalação deste porto e do aprimoramento de Santana aumentará a capacidade de escoação da produção mineral e agrícola do Amapá, tendo em vista que já possuímos muitas plantações de soja e outros grãos; A reativação e ampliação da linha férrea Macapá – Serra do Navio também poderá ser alvo de agentes públicos compromissados com nosso desenvolvimento, uma vez que aprimorar nossos modais de escoamento de produção favorece e muito na comercialização entre agentes internos e externos; A conclusão da BR-156 ela não é só importante para a diversificação de emprego mas é também uma obrigação deste agentes com o povo de Oiapoque e Laranjal do Jari que são tão humilhados por essas condições, e as condições desta estrada impõe a eles a prática de preços diferente do que é praticado em outros municípios que possuem acesso terrestre e com asfaltamento, assim como a rodovia Perimetral Norte, que dá acesso às cidades de Pedra Branca do Amapari e Serra do Navio. Estes são alguns exemplos dos nossos problemas estruturais que afetam diretamente a relação de trabalho e emprego em nosso estado. É preciso, por fim, que esta política que vise a atração de conglomerados empresariais para o Amapá esteja umbilicalmente relacionada a uma politica ambiental e sustentável, não somente pelo fato de estarmos na Amazônia e que isto diz sobre nossa existência e sobrevivência, mas esta será a língua falada por todos os atores internacionais que queiram fazer qualquer relação comercial no Ocidente. A agenda do meio ambiente é prioritária.

Com isso quem sabe, evitaremos ver crianças pedindo comida no sinal, mães catando restos em lixeiras de supermercado, pais não adentram no alcoolismo e nossos jovens não são recrutados para facções criminosas, tendo como primeiro emprego como “vigia da boca”.

 

Att. Eliseu Alves

2 thoughts on “O Desemprego e o Amapá

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